Acorrupção, por si mesma, é um espanto. Sempre é espantosa.
Mas a corrupção, tão banal ela se tornou neste País permanentemente acossado por malfeitores dos dinheiros públicos, muitas vezes chama atenção pelo inusitado, pelo diferente, pelo exótico.
O caso mais recente é o do futuro ministro do Turismo, que usou verba indenizatória - de natureza pública, portanto - para fazer uma festa de arromba na suíte de luxo de um motel em São Luís (MA).
Muito embora banalizada, a corrupção dificilmente deixar de causar forte repulsa quando se expressa em números.
Quantificar, valorar a corrupção, mensurá-la objetivamente, com base em reais, dólares ou outras moedas quaisquer, é essencial para que o cidadão comum, aquele que nem sempre está atento a notícias relativas a malfeitorias com o dinheiro público, seja capaz de aferir por si mesmo os estragos que gestões corruptas são capazes de fazer.
Em sua edição do último domingo, O LIBERAL mostrou que ao longo deste ano nada menos de R$ 44,7 milhões escorreram pelos ralos da corrupção apenas no Pará.
Os números não decorrem de levantamentos oficiosos. Ao contrário, são oficiais. Estão presentes no relatório anual da Advocacia-Geral da União (AGU), que ajuizou ou participou de 2.603 ações em tramitação em várias instâncias do Poder Judiciário em todo o País.
Os protagonistas desses desvios no Estado do Pará são 30 prefeitos ou ex-prefeitos, 15 servidores ou ex-servidores, oito empresas e nove pessoas físicas, entre outros responsáveis por irregularidades que lesaram os cofres públicos entre dezembro de 2009 e 30 de novembro deste ano.
Por que se rouba? Por que se desviam recursos públicos? Por que há gente que não pode ver um vintém pela frente que tenta logo subtrairlhe dos cofres públicos?
Há corruptos que são compulsivos. O corrupto compulsivo é aquele que até quando não se encontra roubando está, de alguma forma, cometendo um crime, eis que não faz outra coisa senão pensar em raspar o tacho até onde puder.
Mas convém considerar que em centenas, milhares de municípios por este Brasil afora, a aplicação desvirtuada do dinheiro público decorre diretamente da inobservância de procedimentos técnicos essenciais para adequar as rotinas financeiras e administrativas de um modo geral à montanha de leis, regulamentos, instruções, atos e portarias em vigor.
O chefe da Advocacia Geral da União no Pará, José Mauro de Lima Ó de Almeida, expressou objetivamente essa realidade. 'O mau gestor não é, necessariamente, aquele que desvia. Existem esses que são maus porque gerem muito mal, são ignorantes mesmo. Isso acontece, principalmente, com prefeitos e secretários municipais, porque no nível estadual a sociedade é mais organizada, a cobrança é maior. Eles gerem o órgão municipal até pior que a casa e a vida deles. Um cidadão que pretende se eleger
deveria, anteriormente, ter um pré-requisito de gestão pública. Eles são muito despreparados', afirmou o procurador-chefe
Sua constatação se fez acompanhar de referência ao palhaço Tiririca, recentemente eleito deputado federal por São Paulo, com mais de 1,3 milhão de votos. 'Fala-se muito do Tiririca, do risco dele como deputado. Mas no Pará temos muitos Tiriricas. Só que os daqui não são comediantes de profissão. Aliás, não têm graça nenhuma. Eles é que fazem a população de palhaça. O Tiririca real ainda não fez mal nenhum à sociedade. Já os Tiriricas daqui desviam ou fazem mau uso do dinheiro público', completou.
Um corrupto, é verdade, pode até se fazer de engraçado. Mas a corrupção que ele pratica não tem graça nenhuma. Ao contrário, precisa ser reprimida por todos os meios legais possíveis, para evitar que a coletividade seja privada de recursos que poderiam minimizar carências em setores vitais.
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