Estado dispõe de aptidão para duplicar a produção brasileira de etanol
Edição de 10/06/2008
DISPONIBILIDADE
Estudo detectou área de 9 milhões de hectares para a utilização de plantio
Em 2006, o governo do Estado do Pará encomendou ao Pólo Nacional de Biocombustíveis da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), um estudo sobre a viabilidade da produção de etanol para aproveitamento de áreas alteradas na região leste do Pará. Na época o governo preocupava-se com o fato de que boa parte das áreas alteradas do Estado estavam sendo abandonadas devido à baixa lucratividade dos negócios de soja, decorrentes das variações cambiais e das flutuações do mercado internacional.
O estudo focou nos 49 milhões de hectares da região leste do Pará. A idéia era evitar a expansão da fronteira do desmatamento e utilizar áreas já disponíveis para uso agroindustrial, por isso a avaliação da aptidão agrícola das terras para a cultura da cana-de-açúcar foi realizada considerando-se a porção leste do Estado do Pará, que já é utilizada para a pecuária extensiva e outras atividades agrícolas. O chamado 'recorte geográfico' foi feito considerando as áreas definidas como de 'consolidação e expansão de atividades produtivas' pelo Zoneamento Ecológico-Econômico do Pará e os limites dos municípios localizados nesta região. Foram incluídos na avaliação 119 municípios, sendo que São Félix do Xingu, Senador José Porfírio, Vitória do Xingu, Portel, Melgaço, Gurupá, Afuá e Chaves definiram o limite oeste da área avaliada.
Na área pesquisada, os técnicos da Esalq encontraram 16,5 milhões de hectares de áreas antropizadas e gradativamente abandonadas. Deste total, o estudo detectou 9 milhões de hectares com alta aptidão agrícola para o plantio de cana-de-açúcar. 'No Brasil inteiro planta-se 6,6 milhões de hectares de cana. O Pará possui área de alta aptidão para aumentar a produção brasileira atual em 136%', diz um dos trechos da pesquisa.
CONDIÇÕES
A conclusão técnica do grupo de pesquisadores do pólo nacional de biocombustíveis é que o Estado do Pará tem todas as condições agrícolas e econômicas para tornar-se um dos principais pólos exportadores de etanol do Brasil. 'Com 9 milhões de hectares com alta aptidão agrícola e custos muito competitivos em mão-de-obra, terras e logística, a região deve atrair a instalação de várias usinas. O retorno esperado para investidores é de 28% ao ano, em modelo simplificado, que pode ser otimizado em termos de custos de mão-deobra, co-geração, uso de irrigação, seleção de terras e negociação com fornecedores', afirmam os pesquisadores. Ainda segundo o estudo, o mercado de etanol estaria se consolidando como uma importante alternativa energética, ecologicamente sustentável e com alto potencial de crescimento acelerado.
O impacto econômico, social e ambiental no Estado poderá ser significativo, aponta a pesquisa. Os 9 milhões de hectares aptos para a cadeia do etanol representariam um potencial de R$ 84 bilhões em investimentos privados, R$ 36 bilhões de PIB anual e 2 milhões de empregos diretos, com uma produtividade média claculada em 80 toneladas por hectare. A boa rentabilidade do negócio de cana também viabilizaria um modelo de inclusão social através de fornecimento por assentados.
Os assentados entrariam com a mão-de-obra e receberiam financiamento com juros baixos para o plantio e custeio, a unidade industrial forneceria gratuitamente as mudas e compraria a produção com um preço mínimo de R$ 42,00 o que asseguraria uma renda mensal de cinco salários mínimos para as famílias.
COMPETITIVIDADE
'O Estado provavelmente terá a plataforma de exportação de etanol mais competitiva do Brasil, que propiciará os maiores lucros para os investidores focados no mercado externo', afirmam os especialistas da Esalq. Os pesquisadores lembram ainda que o preço médio das exportações do Pará é atualmente US$ 62 por tonelada, enquanto o etanol é vendido a US$ 500 por tonelada. 'Este aumento de valor agregado nas exportações demonstra um aumento de qualidade de trabalho incorporado no produto etanol, quando comparado aos outros produtos exportados pelo Estado', acrescentam.
'Na dimensão ambiental, acreditamos que o fortalecimento do etanol no Pará ajudará a diminuir em muito a devastação da Amazônia, tendo em vista que será criado um negócio mais lucrativo do que a exploração da floresta. Com a instalação das usinas e aumento da circulação de riqueza no Estado, ficará muito mais difícil ocorrerem agressões ao meio-ambiente', escrevem os especilistas em outro techo do relatório.
COMPLICAÇÕES
É aí que as coisas se complicam. Não há nenhuma garantia de que a implantação da monocultura de cana em áreas já desflorestadas por outras atividades extensivas (soja e pecuária) vá impedir o avanço sobre áreas ainda com cobertura florestal intacta. Aliás, a história econômica do Estado demonstra exatamente o contrário.
O plantio de cana envolve, também outros problemas de caráter ambiental e social. Do lado ambiental é preciso levar em conta a prática de queimar a palha do canavial, para facilitar o corte manual e aumentar a produtividade do cortador de cana. Essa queima libera gás carbônico e outros gases para a atmosfera. Sob o ponto de vista social, a questão mais grave envolve as condições de trabalho extenuantes a que são submetidos os trabalhadores do corte. As denúncias de trabalho semelhante ao escravo nesse segmento também costumam ser freqüentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário